terça-feira, 9 de agosto de 2011

Abro mão...


"Quero apenas cinco coisas:
Primeiro é o amor sem fim,
A segunda é ver o outono,
A terceira é o grave inverno,
Em quarto lugar o verão...
A quinta coisa são teus olhos...
Não quero ser... sem que me olhes,
Abro mão da primavera para que
continues me olhando"....
Pablo Neruda

domingo, 24 de abril de 2011

Deixa-me fluir


Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui,
um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens
cantarão as horas

Me recamarei de estrelas
como um manto real
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!

Mário Quintana

domingo, 17 de abril de 2011

O mundo na mão


                     

CAIS

" Nunca parti deste cais
e tenho o mundo na mão!
Para mim nunca é demais
responder sim
cinquenta vezes  a cada não.  

Por cada barco que me negou
cinquenta partem por mim
e o mar é plano e o céu azul sempre que vou!  

Mundo pequeno para quem ficou... "

Manuel Lopes

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Luta interna


"É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso,
O que sinto,
O que digo
E o que faço,
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço.
Absurda aliança
De criança
E adulto,
O que sou é um insulto
Ao que não sou;
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou.
Infeliz com loucura e sem loucura,
Peço à vida outra vida, outra aventura,
Outro incerto destino.
Não me dou por vencido,
Nem convencido.
E agrido em mim o homem e o menino."


Poema: Guerra Civil
Miguel Torga

domingo, 3 de abril de 2011

Loucura

Arte: Rafal Olbinski


Como me tornei louco

Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas
– as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas –
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
“É um louco!”
Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
“Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende
escraviza alguma coisa em nós.

Gibran Khalil Gibran

segunda-feira, 21 de março de 2011

Sonhos são pastores

  Imagem Ismael Neri

                                           PROA                                              


O sonho é meu pastor, nada me faltará.
Que venham as tormentas, que venha o que vier,
tenho o sonho comigo, o sonho é meu pastor.

O mundo da aparência não me engolirá.
Conheço bem suas manhas, meu ofício é interior:
girassol que é girassol tem proa pro amanhecer.

O sonho é meu pastor, nada me faltará.
Com ele eu teço o mundo, reinvento a via-láctea.
Mistérios são bem-vindos, o sonho é meu pastor.

Ou eu busco a verdade ou ela não me achará.
Minha verdade, o sonho, é pomar e é brasão.
Seu universo, os versos, fio do sim e do não.

O sonho é meu pastor, nada me faltará.
Encontro nele a luz, meu alimento e cor.
Que escorra a ampulheta, o sonho é meu pastor.

Edival Perrini 
em
(Armazém de ecos e achados)
                                   

quarta-feira, 16 de março de 2011

Selo Vale a pena ler de novo


Selo indicado pelo querido Luiz Neves de Castro 


1. Antologia Poética - Alberto Caieiro

2. Crime e Castigo - Dostoiévski

3. O Lobo da Estepe - Hermann Hesse

4. - Naco de Prosa
    - As cores que sou
    - Fuxikos da Paulinha
    - Hoje meu eu acordou meio lírico 
    - Inércia
    - Pelos Caminhos sa Vida
    - Onze Palavras
    - Absinto

5. Agradecimentos ao querido Luiz Neves de Castro - Egrégora: Carrancas Literárias 

sábado, 12 de março de 2011

Sentimentos são pássaros em voo



"Somos donos de nossos atos,
mas não donos de nossos sentimentos;
Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;
Podemos prometer atos,
mas não podemos prometer sentimentos…
Atos são pássaros engailoados,
sentimentos são pássaros em voo."
Mario Quintana

sábado, 5 de março de 2011

Cenas que impressionam...

É preciso

"É preciso ser duro
como a pedra
como a pedra que parte
como a parte da pedra
que penetra a parede
e a parte
como a rede que não vaza
como o vaso que não quebra
como a pedra que fende
o paredão da casa
E é preciso ter ciso
e simulacro
É preciso todos os dias
vencer os deuses
pigmeus/golias
É preciso ter cara
e ter coragem
É cada vez mais raro
quem assim reage

É preciso ser duro
como o murro
como o muro
e é preciso ser doce
como se anteparo
de vidro
o muro fosse.
É cada vez mais raro
ser duro e doce
cada vez mais torpe
ser apenas duro
cada vez mais nulo
ser apenas doce
cada vez mais raro
cada vez mais duro
ser o muro e a nuvem
como se um só fossem"
Ivo Barroso 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Vida é encontro

"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."
(J.L.Moreno)


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mergulho

"Almejo mergulhar
na solidão e no silêncio,
para encontrar-me
e despojar-me de mim,
até que a Eterna Presença
seja a minha plenitude"
Helena Kolody


domingo, 13 de fevereiro de 2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

Não deixe de caminhar

"A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sentir ou controlar?





Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não.
Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros.
O cerimonial das palavras desacertadas.
Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.
No entanto ele que estava ali.
Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.
Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos.
Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham.
Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector