domingo, 30 de setembro de 2012

Refutação do tempo.



"O tempo é a substância de que sou feito.
O tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio;
é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre;
é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo"

Jorge Luís Borges em  "Nova Refutação do Tempo"

domingo, 16 de setembro de 2012

Não consigo entender


 
Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido

Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?

Muito medo tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar

O tempo levanta o muro.
A morte será o escuro?
Em teu olhar me procuro.
 
Paulo Mendes Campos

sábado, 15 de setembro de 2012

Vibrações do tempo


"A gaivota determinada mergulha na água
Verde. Há um tempo para o peixe
E um tempo para o pássaro
E dentro e fora do homem
Um tempo eterno de solidão.

Muitas vezes, fixando o meu olhar no morto,
Vi espaços claros, bosques, igapós,
O sumidouro de um tempo subterrâneo
(Patético, mesmo às almas menos presentes)
Vi, como se vê de um avião,
Cidades conjugadas pelo sopro do homem,
A estrada amarela, o rio barrento e torturado,
Tudo tempos de homem, vibrações de tempo,
vertigens.

Senti o hálito do tempo doando melancolia
Aos que envelhecem no escuro das boîtes,
Vi máscaras tendidas para o copo e para o tempo.
Com uma tensão de nervos feridos
E corações espedaçados.
Se acordamos, e ainda não é madrugada,
Sentimos o invisível fender do silêncio,
Um tempo que se ergue ríspido na escuridão.
Cascos leves de cavalos cruzam a aurora.
O tempo goteja
Como o sangue.
Os cães discursam nos quintais, e o vento,
Grande cão infeliz,
Investe contra a sombra.
O tempo é audível; também se pode ouvir a
eternidade."

Paulo Mendes Campos

sábado, 8 de setembro de 2012

Reinventar-se

Arte: Margarida Cepeda
Se soubesses como me reinvento
"Nestes lamentos
Que me consomem
Com o passar do tempo

Chora-me a alma
De não saber como ser
Neste mundo alucinado
Onde me deito
E ajeito

Gostava de saber voar
E levar-te a ver as estrelas
Talvez o seu brilho
Te banhasse
E te ajeitasses no meio delas

Só elas entendem este meu jeito
De não ser o ideal perfeito
Para entender
Os rostos alienados
Que afluem neste paraíso
Onde todos de loucos
Temos um pouco

Deixem-me ser também
Um pouco de gente
Neste mundo
Que é mundo perdido
Por nem saber
Como ser louco."
Maria Dolores Marques