sexta-feira, 20 de março de 2015

quarta-feira, 11 de março de 2015

Para o que der e vier




RETRATO DE MULHER

Deve ser para todos os gostos.
Mudar só para que nada mude.
É fácil, impossível, difícil tentar.
Seus olhos são, se preciso, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres, raso d’água sem nenhuma razão.
Dorme com ele como a primeira que aparece, a única no mundo.
Dá-lhe quatro filhos, nenhum, um.
Ingênua, mas a que melhor aconselha.
Fraca, mas aguenta.
Não tem cabeça, pois vai tê-la.
Lê Jaspers e revistas de mulher.
Não entende de parafusos mas constrói uma ponte.
Jovem, como sempre jovem, ainda jovem.
Segura nas mãos um pardalzinho de asa partida
seu próprio dinheiro para uma viagem longa e longínqua
um cutelo para carne, uma compressa, um cálice de vodca.
Corre para onde, não está cansada.
Claro que não, só um pouco, muito, não importa.
Ou ela o ama ou é teimosa.
Para o bem, para o mal e para o que der e vier.

Wislawa Szymborska. Poemas.

Trad. de Regina Prazybycien.