sexta-feira, 20 de março de 2015
quarta-feira, 11 de março de 2015
Para o que der e vier
Deve ser para todos
os gostos.
Mudar só para que
nada mude.
É fácil, impossível,
difícil tentar.
Seus olhos são, se
preciso, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres,
raso d’água sem nenhuma razão.
Dorme com ele como a
primeira que aparece, a única no mundo.
Dá-lhe quatro
filhos, nenhum, um.
Ingênua, mas a que
melhor aconselha.
Fraca, mas aguenta.
Não tem cabeça, pois
vai tê-la.
Lê Jaspers e
revistas de mulher.
Não entende de
parafusos mas constrói uma ponte.
Jovem, como sempre
jovem, ainda jovem.
Segura nas mãos um
pardalzinho de asa partida
seu próprio dinheiro
para uma viagem longa e longínqua
um cutelo para
carne, uma compressa, um cálice de vodca.
Corre para onde, não
está cansada.
Claro que não, só um
pouco, muito, não importa.
Ou ela o ama ou é
teimosa.
Para o bem, para o
mal e para o que der e vier.
Wislawa Szymborska.
Poemas.
Trad. de Regina
Prazybycien.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Vim
Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca
termina,
a linha bate na
pedra,
a palavra quebra uma
esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida
inteira,
palavra, palavra minha.
Paulo Leminski
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Procura
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade
em "A palavra mágica"
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