domingo, 29 de julho de 2012

Quanto mais penso...


O MÍNIMO DO MÁXIMO
Tempo lento,
espaço rápido,
quanto mais penso,
menos capto.
Se não pego isso
que me passa no íntimo,
importa muito?
Rapto o ritmo.
Espaçotempo ávido,
lento espaçodentro,
quando me aproximo,
simplesmente medesfaço,
apenas o mínimo
em matéria de máximo
(Leminski)

terça-feira, 17 de julho de 2012

Ramos separados...



Balada do Amor que não Veio

Se acaso penso em ti, me
inquieta o pensamento...
Por que havias de vir
assim tarde demais?
Bem que eu tinha
de há muito
um cruel pressentimento,
- e há sempre um desespero em nós,
se num momento
desejamos voltar a vida para trás...
Neste instante imagino o que teria sido
o meu vago destino desorientado,
se antes, eu já te houvesse um dia conhecido,
esse tempo, meu Deus!...
- e esse tempo perdido
pudesse ao teu convívio ter aproveitado!

Não há nada entre nós, nada...
e em verdade há a vida
que nos chama e nos prende!...
E já agora imagino
que aqui estás ao meu lado
a ouvir-me comovida
e me entregas a mão, --
e entrego-te vencida
a minha alma,

- e com ela todo o meu destino!

Não há nada entre nós,
- mas se nos encontramos
ouvirás de hoje em diante
um poema onde tu fores,
- trouxemos o destino estranho
de dois ramos, separados,
- que importa?
ainda assim nos juntamos
confundindo as ramagens,
misturando as flores...
E eu nem te vi direito!
JG de Araújo Jorge

O que vejo



"De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo..."

Adélia Prado

domingo, 8 de julho de 2012

Presença



“É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.”
Mário Quintana

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Invento

    
                     

Ney Matogrosso 
Invento

"Vento
Quem vem das esquinas
E ruas vazias
De um céu interior
Alma
De flores quebradas
Cortinas rasgadas
Papéis sem valor
Vento
Que varre os segundos
Prum canto do mundo
Que fundo nao tem
Leva
Um beijo perdido
Um verso bandido
Um sonho refém
Que eu não possa ler, nem desejar
Que eu não possa imaginar
Oh, vento que vem
Pode passar
Inventa fora de mim
Outro lugar
Vento
Que dança nas praças
Que quebra as vidraças
Do interior
Alma
Que arrasta correntes
Que força as batentes
Que zomba da dor
Vento
Que joga na mala
Os móveis da sala
E a sala também
Leva
Um beijo bandido
Um verso perdido
Um sonho refém
Que eu não possa ler, nem desejar
Que eu não possa imaginar
Oh, vento que vem
Pode passar
Inventa fora de mim
Outro lugar"
Vitor Ramil

domingo, 1 de julho de 2012

De que se fala...

Arte: Ann Mei

"Sempre evitei falar de mim, falar-me.
Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas não haverá um falar de mim?"
(João Cabral de Melo Neto)