terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sentir ou controlar?





Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não.
Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros.
O cerimonial das palavras desacertadas.
Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.
No entanto ele que estava ali.
Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.
Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos.
Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham.
Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

13 comentários:

  1. Minha querida prima, quanta saudades de encontrar aqui belos textos.E,hoje,finalmente...È verdade,o controle nos tira as maiores surpresas da vida,é ótimo,porém nada fácil ser distraído,para vivermos melhor os momentos de felicidade e paz.Vamos nos distrair da vida.....Um grande beijo!

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  2. Andei lendo alguns contos de Clarice... que confesso que não consegui adentrar completamente...

    abraços

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  3. Bem,
    Sempre que leio Clarice em qualquer lugar que eu visite ou na folha de papel, só consigo dizer uma palavra: SENSACIONAL.

    Beijo.

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  4. Danada da racionalização, desse ranço cultural de tudo colocar na balança. Há um provérbio chinês que diz: "O Tao que se fala não é mais o Tao"!

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  5. Bem-vinda, Elenir, já há uns tempos que não postava!
    Um bom 2011 para si!

    Beijo :)

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  6. Rs... postei parte desse texto hj tb.
    bjos

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  7. Elenir, que bela escolha. Por vezes penso que Clarisse viveu mil vidas. Ou será que fui eu quem vivi? Ou seremos todos iguais na essência, sejamos líquidos ou sólidos?

    Bom passar por aqui.

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  8. Parabéns por seu espaço que divulga a poética espetacular desses que nos fazem seguir seus passos.

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  9. Gosto da Clarice.. Ela por tantas vezes me adivinha...

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  10. ...traigo
    sangre
    de
    la
    tarde
    herida
    en
    la
    mano
    y
    una
    vela
    de
    mi
    corazón
    para
    invitarte
    y
    darte
    este
    alma
    que
    viene
    para
    compartir
    contigo
    tu
    bello
    blog
    con
    un
    ramillete
    de
    oro
    y
    claveles
    dentro...


    desde mis
    HORAS ROTAS
    Y AULA DE PAZ


    COMPARTIENDO ILUSION
    ELENIR

    CON saludos de la luna al
    reflejarse en el mar de la
    poesía...




    ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE ALBATROS GLADIATOR, ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

    José
    Ramón...

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  11. Oi Elenir, magnífica sua postagem de início de ano. Fez lembrar de: "o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído", verso da música "epitáfio", dos Titãs. Beijo carinhoso

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  12. Concordo com o amigo Luiz Neves, ele disse tudo nesse comentário. bjins

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