domingo, 8 de julho de 2012

Presença



“É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.”
Mário Quintana

3 comentários:

  1. Que maravilha essa presença do instante na saudade e no (re)encontro: "tenho que fechar meus olhos para ver-te". A saudade estranha o instante, porque ela não é nunca do agora. O agora é sempre novo. Obrigado, Elenir, por nos mostrar Quintana, que tão pouco conheço.
    Abraço.
    Gilson.

    ResponderExcluir
  2. Subtil e tão belo como Quintana escreve...A saudade apenas adivinhada pelos sentidos.
    Beijo
    Graça

    ResponderExcluir
  3. Mário Quintana nos brinda com poemas tão sensíveis.
    Em alguns versos há paradoxos que são gostosos de ler e sentir,como se fossem palpáveis.
    Saber que a saudade nos dá um certo trabalho,mas é bom senti-la,pois a lembrança do que vivemos nos faz bem à alma.
    Preciso literalmente, fechar os olhos para ver-te,na distância,no ar,no aconchego do lar,sinto apenas... mas quando meus olhos cerram vejo o que meu coração ainda guarda.Prima, um grande abraço!

    ResponderExcluir