sábado, 2 de junho de 2012

dos Espelhos




“Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente... E então?
Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais - côncavos, convexos, parabólicos - além da possibilidade de outros, não descobertos, apenas, ainda?
[...] Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.”

João Guimarães Rosa, O Espelho, em Primeiras Estórias.

5 comentários:

  1. Elenir, este texto é um show, assim também o seu autor. Lembro-me que Tirésias (que, diga-se, era cego) também preveniu Édipo, o Rei que investigava o assaninato de Laio. Nesse caso, o assassino e o investigador eram a mesma pessoa: o próprio Édipo. "Sim, são para se ter medo, os espelhos".
    Gostei demais.
    Grande abraço e bom domingo.
    Gilson.

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  2. Nada mais cruel do que os espelhos. Côncavos, covexos ou planos eles sempre nos dizem a verdade...

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  3. Eu me busco além do espelho; nem sempre gosto do que encontro.

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  4. Nossos olhos são como diz o texto quem sabe a nossa perdição,pois Narciso exibia sua beleza sem ao menos conhecer seu espelho.O reflexo da nossa alma exibe as verdades e inverdades, as quais não queremos ver,mas que ele nos força a enxergar.Onde ronda o perigo? No espelho que brilha ou no espelho da alma? Penso serem os dois dignos de muito cuidado e receio.Um grande beijo!

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