Arte: Nicoletta Tomas Caravia
"...Agora é de novo madrugada.
Mas ao amanhecer eu penso que nós somos os contemporâneos do dia seguinte.
Que o Deus me ajude: estou perdida.
Preciso terrivelmente de você.
Nós temos que ser dois para que o trigo fique alto.
Estou tão grave que vou parar _
Nasci há alguns instantes e estou ofuscada
Os cristais tilintam e faíscam
O trigo está maduro: o pão é repartido
Mas repartido com doçura? É importante saber
Não penso, assim como o diamante não pensa
Brilho toda límpida
Não tenho fome nem sede: sou
Tenho dois olhos que estão abertos
Para o nada
Para o teto
Vou fazer um adágio
Leia devagar e com paz
É um largo afresco.
Nascer é assim:
Os girassóis lentamente viram suas corolas para o sol
O trigo está maduro
O pão é com doçura que se come
Meu impulso se liga ao das raízes das árvores..."
Mas ao amanhecer eu penso que nós somos os contemporâneos do dia seguinte.
Que o Deus me ajude: estou perdida.
Preciso terrivelmente de você.
Nós temos que ser dois para que o trigo fique alto.
Estou tão grave que vou parar _
Nasci há alguns instantes e estou ofuscada
Os cristais tilintam e faíscam
O trigo está maduro: o pão é repartido
Mas repartido com doçura? É importante saber
Não penso, assim como o diamante não pensa
Brilho toda límpida
Não tenho fome nem sede: sou
Tenho dois olhos que estão abertos
Para o nada
Para o teto
Vou fazer um adágio
Leia devagar e com paz
É um largo afresco.
Nascer é assim:
Os girassóis lentamente viram suas corolas para o sol
O trigo está maduro
O pão é com doçura que se come
Meu impulso se liga ao das raízes das árvores..."
(Clarice Lispector)
É sempre bom vir aqui, Elenir. Encontrar Clarice, então... É sempre uma exigência. Volto pra casa com as ideias girando, girando, tentando "ver" raízes e amanheceres.
ResponderExcluirObrigado.
Gilson.
Que legal!!!
ResponderExcluirEu vinha lendo e de repente você diz: ". . .Leia devagar e com paz. . ." recomecei e fiz uma nova leitura.
Foi como sentir sabor.
Beijos!!!
Olá Elenir,sempre que leio Clarice penso que vou entender claramente o que ela quer nos passar através de seus poemas,mas ledo engano Clarice sempre muito hermética em sua escrita,porém cativante como sempre.Clarice enigmática e singular em toda a sua caminhada de escritora,continua ainda,atual sempre.Belo poema.Um grande abraço!
ResponderExcluirDizer o quê?
ResponderExcluirQue nasci e, às vezes, sou!
Um belo texto, cheio de alegorias.
ResponderExcluirbeijo
Graça