“É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.”
Mário Quintana
Que maravilha essa presença do instante na saudade e no (re)encontro: "tenho que fechar meus olhos para ver-te". A saudade estranha o instante, porque ela não é nunca do agora. O agora é sempre novo. Obrigado, Elenir, por nos mostrar Quintana, que tão pouco conheço.
ResponderExcluirAbraço.
Gilson.
Subtil e tão belo como Quintana escreve...A saudade apenas adivinhada pelos sentidos.
ResponderExcluirBeijo
Graça
Mário Quintana nos brinda com poemas tão sensíveis.
ResponderExcluirEm alguns versos há paradoxos que são gostosos de ler e sentir,como se fossem palpáveis.
Saber que a saudade nos dá um certo trabalho,mas é bom senti-la,pois a lembrança do que vivemos nos faz bem à alma.
Preciso literalmente, fechar os olhos para ver-te,na distância,no ar,no aconchego do lar,sinto apenas... mas quando meus olhos cerram vejo o que meu coração ainda guarda.Prima, um grande abraço!